Será realizado no dia 30 de agosto, sábado, o I Seminário Estadual Saúde do Trabalhador - Nossa dor não sai no jornal. Os painéis, que visam dialogar com todas as categorias de trabalhadores, terão como ponto de encontro a sala João Neves da Fontoura (Plenarinho), no 3° andar da Assembleia Legislativa (Praça Mal. Deodoro, 101).
As palestras serão ministradas pelo médico do trabalho Rogério Dornelles, que atua em sindicatos gaúchos, e pelo psicólogo Roberto Heloani, pesquisador paulista que estuda o assédio moral no trabalho. A atividade terá início às 8h30 e se estende até 12h.
A participação é gratuita e as inscrições podem ser feitas aqui.
O evento é uma realização conjunta do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SINDJORS), Fórum Sindical de Saúde do Trabalhador (FSST) e Centro Estadual de Vigilância em Saúde, da Secretaria Estadual de Saúde, e conta com apoio da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa.
No jornal Versão dos Jornalistas do mês de julho, entrevistamos o pesquisador e psicólogo Roberto Heloani, um dos palestrantes do Seminário Estadual Saúde do Trabalhador - Nossa dor não sai no jornal. Veja na matéria a percepção dele em relação aos profissionais da área da comunicação.
Psicólogo considera precário o trabalho do jornalista
O psicólogo e professor universitário Roberto Heloani realiza pesquisas com diversas categorias de trabalhadores sobre assédio moral e sexual há mais de 15 anos. Entre suas especializações está o Pós-Doutorado em Comunicação que realizou pela USP. A interação com a problemática dos jornalistas o motivou a desenvolver uma análise das condições de saúde destes profissionais. “Com a convivência aprofundei meu interesse em conhecer quem são os formadores de opinião do nosso país”, recorda.
Roberto Heloani. Foto: Arquivo pessoal

Um dos palestrantes do Seminário Estadual Saúde do Trabalhador, Heloani aponta como principal problema que leva ao adoecimento dos jornalistas o fato de que a maior oferta de empregos na área da comunicação no Brasil está ligada a poucas organizações. Isso porque perder o emprego em um destes grupos limita as possibilidades de reinserção no mercado. “Existe uma competição muito grande. Perder o emprego significa ficar desempregado ou no subemprego”, observa. Assim, o trabalhador acaba se submetendo as condições impostas, sendo induzido a pensar que isso faz parte da profissão e deve ser aceita sem contestação.
Dividida em três etapas, a pesquisa com jornalistas teve inicio em 2002 com um pequeno grupo, selecionado a partir de indicações de pessoas conhecidas. O trabalho foi ampliado em 2005 e, em 2012, a rede de contato já contava com cerca de 250 profissionais da comunicação. Os resultados obtidos, que servirão de subsídio para os debates do seminário, preocupam o pesquisador. “Assim que comecei a pesquisar, percebi o quanto o trabalho do jornalista é precarizado”, assinala.
Outro problema que Heloani aponta é a história construída em torno do jornalismo no Brasil. O pesquisador considera que a identidade é má constituída na própria academia. “Boa parte das faculdades tendem a dar uma formação técnica para uma profissão que demanda de formação humanística. Isso faz com que já na faculdade se encaminhe para saídas individuais e não busque o coletivo”, destaca, complementando que o mercado de trabalho apenas reforça essa lógica.
Adoecimento psíquico e drogadição
Mais do que uma categoria, o jornalista se enxerga como parte da empresa onde trabalha. Essa identificação e, por muitas vezes, idealização, pode decepcionar o profissional. Neste meio, estar ligado a uma atividade de representação da sua categoria pode ser considerado um diferencial negativo. Por esse motivo, Heloani enxerga esta como uma categoria que não consegue reivindicar as causas do grupo. “É uma profissão que ainda não criou um coletivo robusto, apenas saídas individuais”, aponta.
Além disso, a série de exigências as quais é submetido no cotidiano leva o jornalista a trabalhar constantemente sob estresse. Por se caracterizar como uma atividade que convive com situações inusitadas, o profissional precisa aprender a controlar as emoções. E, muitas vezes, a saída encontrada é o uso de entorpecentes que aliviem a tensão do dia-a-dia. “O problema é que a droga não é utilizada num momento de lazer, mas como uma ferramenta quase indispensável”, lamenta.
A reputação do profissional jornalista contribui para que esses trabalhadores acobertem situações que fogem da normalidade nos ambientes de trabalho. Porém Heloani entrevistou profissionais de diversas áreas da comunicação e percebeu que muitos estão buscando alternativas dentro das possibilidades que o mercado oferece. “O profissional que trabalha com assessoria de imprensa percebeu que o jornalismo tradicional seria muito duro, uma atividade muito desgastante e com uma remuneração muito baixa”, entende.
Questão que divide os próprios jornalistas, a discussão quando à validade do trabalho em assessoria é apontada por Heloani como a resposta de um profissional que, mesmo querendo exercer a função em uma redação, acaba se assustando com a realidade que encontra. “Não quer dizer que esses jornalistas sejam menos íntegros, mas sim com uma percepção mais real da profissão”, conclui.
Participante ativo dos debates sindicais envolvendo os profissionais que pesquisa, Roberto Heloani acredita que a união da categoria é fundamental para se buscar a solução do problema. Também a união entre as associações de trabalhadores é importante, para que os dados possam ser compartilhados e as alternativas encontradas por um grupo ou estado sejam aplicadas em outro. A proposta da realização deste seminário pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS busca a colaboração dos colegas interessados no tema para, coletivamente, construir as propostas que atendam as demandas de saúde dos jornalistas.
Fonte: Imprensa/SINDJORS
Publicada em 21/08/2014 21:51