Com o encerramento da atual gestão do Governo do Estado, uma questão tem preocupado a categoria e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SINDJORS). Ao anunciar que não precisa de um porta-voz, o governador eleito José Ivo Sartori desmerece a importância do profissional de comunicação, postura evidenciada com a extinção da Secretaria de Comunicação (Secom).
Atual responsável pela pasta que gerencia a produção de conteúdo jornalístico do governo estadual, o jornalista Marcelo Nepomuceno esclarece que a secretaria foi criada a partir de uma orientação do atual governador, ainda quando este foi eleito, que remodelou a estrutura de governo existente até então. Instalada nos porões do Palácio Piratini, muito devido ao seu caráter histórico, a nova estrutura exigia maior espaço para desenvolver suas atividades.
Durante os quatro anos que a Secom atuou junto ao governo, três secretários foram responsáveis por coordenar a equipe com 15 jornalistas, estagiários e profissionais de outras áreas, como relações públicas e publicitários. Foram eles Vera Spolidoro, ex-presidenta do SINDJORS, João Ferrer e, atualmente, Nepomuceno. Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Milton Simas, “quando Sartori afirma que não precisa de porta-voz, revela seu desconhecimento das atividades do jornalista e da própria Secom, que reúne profissionais dos três segmentos da comunicação”, defende. Para Simas, independente do governo, os profissionais devem receber o respeito e o reconhecimento de suas atribuições.
Nepomuceno aponta ainda que entre as principais tarefas da Secom está a de administrar a relação com as assessorias de imprensa das secretarias e órgãos de governo, cerca de 90 profissionais. “Essa estrutura mostra o tamanho da responsabilidade que os órgãos de Estado têm para abrigar os profissionais de comunicação. A assessoria de imprensa acabou encontrando no poder público um grande mercado”, destaca. Para bem atender a estes profissionais, o atual secretário considera importante destacar o bom relacionamento que o sindicato teve com a secretaria, primando por uma relação respeitosa com as equipes.
Também a produção de conteúdo jornalístico diferenciado e valorização do profissional jornalista foram marcas da Secom, que trabalhou com uma equipe multidisciplinar e grupos especializados em determinadas áreas, como o atendimento ao interior, por exemplo. “É isso que vai ser entregue, uma estrutura própria de secretaria e com as tarefas específicas de uma assessoria, com todas as atribuições esperadas” informa.
Um relatório de gestão será entregue ao próximo governo, através de uma equipe de transição já estabelecida. Nele é apresentado um balanço técnico, de estrutura pessoal e física e com dados dos investimentos realizados. Agora, Nepomuceno aguarda a confirmação do próximo responsável pelo setor de comunicação no Estado. “A partir da confirmação do nome a secretaria está à disposição para encaminhar a transição de maneira transparente e tranquila”, conclui.
O presidente do SINDJORS manifesta o impacto da notícia de extinção da Secom junto à categoria. “A decisão do governo eleito preocupa tanto a nossa diretoria quanto o conjunto dos profissionais de jornalismo, que mais uma vez vêem a profissão ser relegada a um segundo plano. Os gestores públicos devem ter entendimento do papel do jornalista como protagonista no processo de comunicação pública, sendo um intermediário entre os órgãos institucionais, a mídia e a população, mas infelizmente nem todos têm esta consciência” comenta.
Confira trechos da entrevista com o secretário de Comunicação do RS Marcelo Nepomuceno
Marcelo Nepomuceno aguarda confirmação do novo gestor de comunicação do Estado para realizar trabalho de transição
Foto: Divulgação/Secom
SINDJORS – Nesses quatro anos de trabalho, o que a equipe de comunicação avalia como positivo e o que poderia ter sido feito melhor?
Marcelo Nepomuceno – No início de 2014 lançamos um novo portal de governo, que não é apenas a reorganização da interface do site, mas a readaptação da página para atender as novas demandas que surgem nessa área. O novo portal, assim como a página no facebook, entre outros, ficam como legado para a futura gestão. Para a comunicação, talvez o grande desafio seja fazer prevalecer as pautas positivas daquilo que o assessorado, no caso o governo, produz. A relação é geralmente tensa entre o poder público e veículos de comunicação. Nós, enquanto poder público, ainda buscamos a melhor maneira de nos relacionarmos nas redes sociais. Nessa demanda o poder público ainda tem que evoluir muito para que se tenha uma resposta aceitável por parte da sociedade. Um importante passo já foi dado: em um ano a página do governo no facebook passou de 3 mil para mais de 130 mil seguidores, entrando para o grupo dos três perfis de governo mais relevantes do país.
SINDJORS – Como a atual gestão trabalhou a relação ente a comunicação direta e a publicitária?
Marcelo Nepomuceno – Trabalhar comunicação é muito mais que enviar release, é relacionamento interpessoal. A atual gestão tentou fazer com que os assessores percebessem que esse relacionamento é muito importante. Através de reuniões semanais com assessores buscamos levar a cultura de que eles são parte importante e estratégica do processo, que incide no trato não só da comunicação, mas da política de governo. Já na área da publicidade conquistamos um avanço importante. Através do contrato envolvendo cinco agências, se conseguiu estabelecer uma dinâmica de produção de conteúdo reconhecida pelo mercado. Nesse ponto, a política de investimentos é um tema delicado porque recursos sempre parecem abaixo da expectativa que o mercado necessita, e a publicidade institucional merece atenção em relação ao dinheiro, que é público. Acredito que conseguimos gerenciar bem essa questão.
SINDJORS – A partir da declaração do governador eleito que justifica a extinção da Secom por não precisar de um porta-voz, o quanto podemos apontar da diferença que a comunicação faz na gestão?
Marcelo Nepomuceno – A tarefa do porta-voz é uma das que o poder público pode dispor e não deve ser confundida com a secretaria, pois é exercida por uma pessoa. Enxergar a Secretaria de Comunicação apenas na função de porta-voz é um pouco limitado. A Secom tem tarefa gerencial do governo como um todo, e de maneira mais próxima com o próprio governador. O conceito que nossa gestão tem da Secretaria de Comunicação transcende essa.
Fonte: Imprensa/SINDJORS
Publicada em 22/12/2014 15:15