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Mídia alternativa, ética e internet em debate

   O jornalismo ativista e engajado foi o centro do debate no 37º Congresso Estadual dos Jornalistas do Rio Grande do Sul. O evento, realizado nos dias 24 e 25 de junho em Caxias do Sul, contou com a participação de dezenas de profissionais, estudantes e professores de comunicação de todo o Estado.

   Pautado pelos fatos sociais, o jornalismo se tornou notícia a partir do recente caso da prisão do repórter Matheus Chaparini, do Jornal Já. O estranhamento causado pelo trabalho do jornalista, que decidiu acompanhar de perto o acontecimento a esperar a versão oficial dos fatos apresentada pelos órgãos públicos levantou o questionamento sobre o papel do profissional perante a notícia.
 
No dia 15 de junho deste ano, estudantes da rede pública ocuparam o prédio da Secretaria Estadual da Fazenda, em Porto Alegre, pedindo que mais recursos fossem destinados para a educação. Sem dialogar com os jovens, o governo de José Ivo Sartori acionou a Brigada Militar para que os retirasse do prédio à força.
Chaparini, que fazia a cobertura da ocupação pelo Jornal Já, foi preso junto com um cineasta independente e estudantes maiores de idade. Mesmo tendo se identificado como jornalista, o que está registrado em vídeo, o governo nega o fato. O repórter está em liberdade provisória, respondendo aos crimes de corrupção de menores, organização criminosa, esbulho possessório, resistência à prisão, desacato de autoridades e dano qualificado ao patrimônio público.
 
   Para esclarecer os fatos pertinentes ao episódio, o próprio Chaparini participou do painel de abertura do encontro promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SINDJORS), ao lado da advogada e professora Leticia Bortoluzzi, da Faculdade da Serra Gaúcha. Após a exibição de dois vídeos gravados durante a cobertura, o repórter relatou a sua participação no caso.
   "A pauta estava lá dentro. Em podendo entrar, entraria. Pude e entrei", declarou, evidenciando ao público que estava no local para cumprir com a sua tarefa de noticiar o fato. "Houve uma tentativa de defender a realização de uma cobertura oficialista. Mas a versão oficial não bate nem com os vídeos divulgados", contesta.
 
Jornalista é respaldado pela Constituição
 
Foto: Maurício Concatto
Foto: Maurício Concatto
 
   Leticia, que estudou o caso envolvendo Matheus Chaparini, destaca que tanto o código de ética quanto a Constituição brasileira dão respaldo para o trabalho do jornalista. "Os direitos são assegurados em termos constitucionais", lembra. A advogada defende a atuação do Sindicato dos Jornalistas no caso, pois acredita que a entidade consegue se consolidar com mais força. Este movimento pode fazer com que sejam retiradas as acusações feitas ao repórter.
   Em resposta aos questionamentos feitos pelo público, Chaparini conta que em nenhum momento foi procurado pelo Executivo estadual. Citando o processo judicial movido pela família Rigotto contra o editor do Jornal Já, Elmar Bones, o jornalista lamenta que mesmo sem a censura oficial, como a praticada durante o regime militar, o trabalho muitas vezes é medido, com receio de retaliação na justiça.
 
Internet na frente na TV
 
Foto: Bruna Fernanda Suptitz
Foto: Bruna Fernanda Suptitz
 
   No segundo dia do evento foi abordada a crescente presença de novos canais de interação, especialmente as redes sociais, na rotina dos profissionais da comunicação. O painel com Lucio Uberdan, diretor da IntPolitics, microempresa com foco em inteligência política a partir da análise de dados da comunicação pública em ambiente online, tratou sobre como a mídia se coloca nesse cenário da instantaneidade da informação.
   "Hoje a pessoa não espera mais o jornal impresso para saber as notícias do dia. A internet está cada vez mais presente na rotina da população", informa, a partir do dado que a rede já conquistou penetração maior que a TV nos lares brasileiros, ficando atrás apenas do rádio.
 
Plenária aprova teses e escolhe delegados
   Na tarde de sábado, aconteceu a plenária de apresentação de teses e moções. Das teses-guias propostas pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), três foram aprovadas na íntegra e uma aprovada com um aditivo. Foram apresentadas e aprovadas duas teses avulsas.
   Apresentada pelo SINDJORS e assinada por 58 colegas presentes do evento, uma moção em repúdio à violência cometida pelo Estado do Rio Grande do Sul por ocasião da prisão do jornalista Mateus Chaparini, no dia 15 deste mês. Uma versão online do documento será disponibilizada para que mais colegas possam manifestar seu apoio.
   As teses e a moção serão apresentadas no 37º Congresso Nacional dos Jornalistas, que acontece entre os dias 25 e 28 de agosto em Goiânia (GO). Cinco delegados representarão o Estado no encontro: Jeanice Dias Ramos, Jorge Correa, Márcia Carvalho e Márcia Martins, eleitos na plenária, além do presidente do SINDJORS, Milton Simas Junior, delegado nato.
 
Foto: Bruna Fernanda Suptitz
Foto: Bruna Fernanda Suptitz
 
   O Congresso Estadual dos Jornalistas contou com a organização da Padrinho Agência de Conteúdo e apoio de Sicredi; Faculdade da Serra Gaúcha; Câmara de Vereadores, Secretaria de Turismo e Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria de Caxias do Sul; Expresso Caxiense; City Hotel e Restaurante Zanuzi.
 
Foto: Alexandra Zanela
Foto: Alexandra Zanela
 
* O jornalista Moisés Mendes, que participaria do painel de abertura do Congresso, não pôde comparecer por motivo de saúde.
 
Texto: Bruna Fernanda Suptitz / SINDJORS
Edição: Jorge Correa / SINDJORS
 
 
 
Publicada em 27/06/2016 00:21


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